BUM PERICIAL: A perícia judicial está sofrendo uma sobrecarga de Profissionais

O “Bum” Pericial e Suas Consequências no Cenário da Perícia Judicial no Brasil

Nos últimos anos, a perícia judicial no Brasil passou por uma explosão de novos profissionais inscritos nos bancos de peritos dos tribunais. Esse fenômeno, que podemos chamar de “bum pericial”, é o resultado de uma combinação de fatores, incluindo o aumento de propaganda sobre a carreira de perito judicial, muitas vezes exagerada e falaciosa, a facilidade de obtenção de registro como perito e a proliferação de cursos que prometem ganhos rápidos e altos. Entretanto, a realidade que muitos desses novos profissionais encontram é bem diferente do que imaginaram, levando à saturação do mercado e a consequências complexas para a profissão.

O Crescimento Exagerado e Suas Causas

A carreira de perito judicial tem sido retratada em muitos cursos e materiais de divulgação como uma excelente oportunidade para profissionais de diversas áreas. Promessas de retorno financeiro rápido e alta demanda judicial acabam atraindo um grande número de interessados, muitos dos quais não estão plenamente cientes das exigências da prática pericial. Esse movimento é incentivado pela facilidade de cadastro, onde, com algumas certificações e comprovação de experiência, muitos conseguem se inscrever nos bancos de peritos dos tribunais.

No entanto, a profissão não é tão simples quanto pode parecer. Além de habilidades técnicas específicas, ser perito judicial exige conhecimento jurídico, disciplina para lidar com prazos rigorosos e paciência com processos judiciais muitas vezes lentos e burocráticos. Ainda assim, a propaganda de ganhos fáceis, a criação de cursos com promessas irrealistas e a escassa exigência de experiência para cadastro fizeram com que a quantidade de peritos cadastrados crescesse desproporcionalmente à demanda real de nomeações.

Saturação do Mercado e Redução nas Nomeações

Esse aumento repentino de novos profissionais trouxe consigo um efeito direto: os tribunais passaram a enfrentar uma verdadeira “fila” de peritos aguardando nomeação. Com a enxurrada de cadastros, muitos peritos experientes passaram a ser menos nomeados, enquanto os novos profissionais enfrentam longas esperas para suas primeiras nomeações. Essa superlotação gerou uma distribuição desigual e insuficiente de trabalhos, causando uma diminuição nos ganhos médios dos profissionais dedicados ao setor.

Com isso, muitos profissionais que estavam em plena atividade agora se deparam com uma diminuição nas oportunidades de atuação. Aqueles que esperavam estabilidade e boas remunerações percebem que a realidade está aquém do prometido. Além disso, a competição acirrada pelo espaço no mercado leva à desvalorização dos honorários, tornando a carreira menos atraente do ponto de vista financeiro.

Descontentamento e Desistência dos Novos Profissionais

Para muitos profissionais novatos, a realidade é bem diferente do que idealizaram. Nomeações são lentas e os procedimentos judiciais envolvem burocracia e paciência. Além disso, muitos encontram impugnações frequentes dos honorários, enfrentam tabelas de remuneração baixas e percebem que a responsabilidade técnica e jurídica pode ser alta. Os valores muitas vezes modestos e a morosidade dos tribunais para efetuar os pagamentos fazem com que a carreira de perito não traga o retorno financeiro esperado, levando a uma frustração crescente entre os novos peritos.

Como resultado, é previsível que muitos desses profissionais acabem desistindo da carreira. A demanda pelos peritos especializados, resilientes e bem preparados voltará a crescer, e, com o tempo, a quantidade de peritos nos bancos dos tribunais deverá se estabilizar.

O Futuro: Uma Seleção Natural no Mercado de Perícia

O “bum pericial” deve dar lugar a um “vazio pericial” no médio prazo, onde somente os peritos mais especializados e resilientes permanecerão ativos. Esses profissionais, dedicados e com amplo entendimento dos processos judiciais, conseguirão responder à demanda com maior qualidade e experiência, tornando-se a base para a prática pericial no Brasil. A desilusão de muitos peritos novatos pode ser um passo natural de depuração no mercado, onde permanecerão apenas aqueles que realmente possuem preparo e compromisso com a função.

Quando esse processo de estabilização ocorrer, é provável que as condições para os peritos que permanecerem no mercado melhorem. Com uma oferta mais restrita e composta por profissionais bem qualificados, os tribunais poderão valorizar mais as nomeações, garantindo uma distribuição de trabalho mais justa e uma remuneração adequada.

Considerações Finais

O “bum pericial” que vemos atualmente é, ao mesmo tempo, um reflexo do crescente interesse pela perícia judicial e das promessas exageradas que levaram a uma visão distorcida da profissão. A carreira de perito judicial exige mais do que conhecimentos técnicos; é necessário resiliência, paciência e um bom entendimento da dinâmica jurídica. Enquanto o mercado passa por essa fase de superlotação, é provável que muitos profissionais acabem abandonando o setor, levando a uma estabilização natural e potencialmente abrindo espaço para uma nova valorização dos peritos no futuro.

Essa evolução demonstra a importância de uma visão realista da profissão e a necessidade de que cursos e materiais oferecidos apresentem com transparência as responsabilidades e desafios da perícia judicial, para que apenas aqueles verdadeiramente preparados e interessados sigam em frente na carreira.

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